sábado, 1 de janeiro de 2011

Mãe


Já houve um tempo em que a he culpado por tudo, filha das águas. He-te chamado tempestade e te chamado responsável pelos infortúnios e destemperanças do caminho.

Hoje sei que não me governas – até o querias. E como eu tateias um caminho por entre esse mundo de incertezas.

Já não sei se prefiro a filha à rainha. Enquanto rainha dos mares e dos caminhos, eu era nada. E ser nada, quase sempre, é bom demais. E culpar as águas por infortúnios meus, ainda melhor.

Mas hoje eu te vejo cada dia mais filha e menos rainha. Não te assustes se ainda atribuo às minhas destemperanças os teus trovões assustados: hoje já não sei se são mais trovões que um choro de criança. E se ora os tomo por um ou por outro, são pelos meus mares que ainda andam sem rumo, mais do que os teus.

Mares tão teus que vejo formar em mim, e reluto. Luto contra a chuva que os forma: ainda ontem não era apenas um barco sem rumo, perdido em teus reinos de água?

Rainha ou filha, navegada ou navegante, estarás sempre em mim: os teus mares são meus. E os meus, rascunhos dos teus. E no dia em que tua força falhe, rainha, no dia em que teus mares sem rumo não governarem mais teus tantos reinos, não tema: Nesse dia te direi, minha filha, que eu cheguei. Podes descansar agora.

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