quinta-feira, 30 de junho de 2011

Acaso

O mistério fala como ninguém

De que adianta ser claro quando ninguém pode ouvir? Ou tentar explicar-se pra quem não pode entender?
Deixa no ar, deixa pairar... deixa fluir, deixa crescer.

As explicações passam... os mistérios não tem tempo. E é na mudança que mora a única e grande verdade do mundo, a inconstância.

Por isso que dou o conselho: não meça a palavra usada, nem se culpe na frase errada. Joga as letras ao vento.
Um dia, eu sei, há de chegar o momento.

...

Aquele em que alguém, sem pressa, vai olhar praquele mar de letras ao chão e ler você. Vai arrumá-las, uma a uma, com a paciência e a perfeição de um parnasiano, e te mostrar a mensagem que você nem precisou organizar:
“E que outras letras havia aqui, que não essas?”
E é então que você passa a se sentir acolhedoramente idiota, e o seu indecifrável passa a fazer sentido pra alguém, sem qualquer explicação.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Manifesto – a favor da espontaneidade


American Idol. X-Factor. America’s got talent. Glee.

O vencedor? Aquele que apresentar melhor técnica vocal, de acordo com padrões mais ou menos pré definidos: de preferência que consiga sustentar uma nota por quase um minuto, sem respirar, o que sempre arranca aplausos da platéia.

E que músicas devem cantar para vencer? As que permitam a melhor exploração da técnica, ou as que melhor se encaixem em um estilo pré definido (se a pessoa só se vestir como “rockeira”, por exemplo, deve escolher esse tipo de música para manter a sua imagem pré-fabricada).

Coreografias também funcionam. Nesse campo, quanto mais provocativa e apelativa, normalmente, melhor.


Sinto falta das pessoas que cantam com o coração ao invés de com a garganta. De pessoas que só usam o corpo como forma de expressão da música, ao invés daquelas que só usam músicas que as permitam explorar o corpo. De artistas que clamam por expressão ao invés de aceitação.

Cazuza. Beatles. Se nunca foram grandes cantores, muito menos grandes dançarinos, tinham de maior o coração. Cantavam o amor, com amor. Com simplicidade. Não precisavam de fantasias de carnaval (ou halloween) pra aparecerem mais. A música falava por si mesmo. Não precisavam de coreografias “sensuais”. O amor verdadeiro fala por si só.

Celebridades meteóricas. Músicas com prazo de validade. Coreografias padronizadas. Repetição. Substituição. Marketing.

Temas decepcionantes. A vida não é complicada. Não é feita de grandes decepções, nem deveria ser voltada ao sucesso ou dinheiro. Amor não é posse. Amor não se grita de cima dos telhados.  Amor se fala baixinho, devagarinho, que a vida e o amor são breves...

 Love is all you need, pro dia nascer feliz.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dos clichês

Aprendi  que o capitalismo é um sistema predatório por necessidade. Subsiste enquanto ainda existem “terras” (ou mais corretamente na atualidade, setores) virgens a serem exploradas, sobre as quais incha como bolhas em sua exploração desenfrada até que elas estouram, causando mini ou megacrises, dependendo do tamanho da área antes virgem (e agora deserta) afetada.

Aprendi que nem sempre o ciúme é feio, mas que os Trichuris trichiura sempre são.

Aprendi que um texto multidisciplinar é sempre mais interessante, mesmo quando no fundo o objetivo seja falar sobre uma matéria só.

Aprendi que existem pessoas falando em “crise do contrato”, enquanto muitas outras ainda acreditam que os acordos de vontade continuam a ser predominância absoluta na nossa vida civil.

Isso tudo (?) em apenas um dia.

Eu poderia dizer que cada dia de vida é uma grande descoberta, e ser clichê.

Talvez eu não estivesse mentindo, mas tenho certa aversão por clichês. Aversão, aliás, totalmente injustificada. Um clichê bem usado pode ser muito mais prazeroso de ouvir que qualquer declaração inovadora. Que nos diga os “eu te amo” ao pé do ouvido, da boca, de joelhos...




Talvez, no futuro, eu esqueça dos Trichuris trichiura. De vez em quando a vida já nos surpreende com algumas feiúras próprias. É bom não trazer nenhuma já dentro de nós.

Talvez eu esqueça também da crise do contrato. Afinal, toda tecnicidade deveria ter utilidade limitada. É bom lembrar apenas que um dia enxergaram que, quando a vontade é livre, o mais forte domina o fraco. E desde que decidiu-se proteger mais os fracos, as pessoas são menos tristes e mais iguais.

E talvez eu até lembre que o capitalismo é predatório, mas lembre também que aprendi mais da sua natureza feia nas estantes dos Best sellers. Lembrar mesmo? Da felicidade de saber que estou longe de ser o único a desejar um sistema que faça a todos mais felizes.

E no fim?

No fim eu vou lembrar mesmo é das juras de amor. Dos clichês reconfortantes. Das mentiras inocentes e das verdades tímidas, das declarações. Daquele entardecer manhoso. De você naquela varanda, com o mar ao fundo. No fim, eu deixo as informações nos livros.

Eu guardo o amor...