quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Carolina

Porque não abres os olhos, poetinha
E cantas assim de olhos fechados
Nas pontas dos pés

E faz-me sonhar também?

Como se faz pra tecer com nuvens, menina?
Me ensina,
Que eu quero aprender.

Me deixa entender, ou melhor
Me perder
como tu, que te perdes em linhas
Pra se (e me) encontrar em qualquer verso.

E espalhas tua música em prosa
Que também é canto
E canta

E te espalhas pelo ar em um sopro
Brinca como o sol e a chuva
E dança.


Pro meu espelho. Pro pedaço do mesmo espírito que se perdeu (ou se encontrou?) em algum dos caminhos entre lá e cá.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Boemia


Apontavam, retas e rígidas, a escuridão
Contrastavam com os braços tortos, que iam e vinham
Na contramão
Carregando dourados sóis que quebravam nas bocas em ondas
Deixavam a espuma do mar, branca

E as retas em setas inflexíveis ainda apontavam a negritude do céu.
Ao lado delas, conversas tortas iam e vinham
Em festa, incorrigíveis
Entremeadas da névoa do mar noturno
- O véu!
Que quebrava das bocas em brisa, branca

E as lanças intrépidas retiam a festa, a conversa,
O sol, a brisa, o mar
Maldita grade funesta
Senso torto de propriedade reta
Negra, a me assombrar.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ecos

E eu que ando dividido entre dois mundos
mudo
           muro
                      não muda

É diferente do lado de lá?

E o muro 
que me parte        em dois

me reparte do mundo
imundo, mudo me faz
nudez (ou mudez?)

e na confusão
                     de palavras
  me perco
            que é pra não me encontrar

que o muro que me cega
           me cerca
e nu e mudo 
ainda posso gritar

                ..mas e o lado de lá?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Bossa

Maldito cimento que me cerca
Cinza infernal!

Onde está o verde, o vermelho
O amarelo, o azul, o rosa,
E outras cores 
- que não por acaso
Esqueci
Não as vejo!

Fúnebre cidade sem cor

Canto a tua feiúra, a tua tristeza
Tua amargura

Canto a minha beleza, a minha riqueza
A minha ternura

Que nunca hás de reter com teu cinza
Ah! Minha triste amante, nunca hás

Sou muito maior que teus prédios
Teus cemitérios
Deletérios 
Monumentos
Aos sem cor

Que todos os dias eu pinto
Repinto e remoldo
Ao meu sabor

Na minha mente tu és colorida
És cheia de vida
Minha bela adormecida.

Ainda hei de acordá-la
Em uma linda primavera
Despertar em você todas as flores
- As cores!

Ah! Os devaneios de um apaixonado...
Serei eu que preciso ser acordado?

domingo, 10 de outubro de 2010

O velho hábito de (des)construir

Catar a palavra vadia
a letra fugidia
a frase arredia

Aí o poema,
fim do problema.

Sentimento?
Poema é construção
palavra é cimento.
Poesia é fingimento.