Clarice encontra-se sentada ao chão com uma almofada sobre o colo, e parece perdida em pensamentos tranqüilos. Carlos anda para lá e para cá inquieto, com feições preocupadas.
C: Estou precisando exorcizar demônios.
cL: Que demônios, Carlos?
C: Os meus.
cL: Difícil.
C: Exorcizá-los?
cL: Pois sim.
C: E porque?
cL: Porque contigo é tudo difícil, Carlos.
cL: Olha, façamos assim. Deita aqui no meu colo, fecha os olhos.
Carlos se deita sobre a almofada no colo de Clarice.
cL: Assim. No que pensas agora?
C: Na sensação boa que sinto enquanto tuas mãos tocam o meu cabelo, o meu rosto, a minha boca...
cL: E os demônios?
C: Que demônios?
cL: Vês?
C: Só a você.
Clarice se ri
cL: A vida não é complicada, Carlos. A vida é como uma carícia, e só é boa quando fechamos os olhos enquanto ela nos eriça os sentidos, um a um. Pensar atrapalha.
C: As tuas mãos então são vida, Clarice, mais que qualquer coisa outra...
- Clarice sorri
cL: Diz-me então Carlos: no que pensas quando eu não estou?
C: No mundo Clarice, e em mim. E no mundo em mim. E na falta que me fazes.
cL: Pois faz da minha mão o teu mundo Carlos. Ela é tão grande quanto ele, vês?
C: Sempre foram maiores que as minhas – e se ri
- Carlos se levanta de um pulo.
C: Clarice, como o fazes?
cL: O que, Carlos? – gentil
C: Como fazes pra estar sempre assim, tão leve? E como em um toque faz-me assim também?
cL: A vida é leve, Carlos. Mas não seja tonto, que te desconcertas. Deita-te aqui de novo.
Carlos se deita, como que cumprindo uma ordem a qual é incapaz de desobedecer.
C: Queria poder não sair daqui nunca mais...
cL: E porque haveria de ir-te?
C: Porque tenho tantas obrigações nessa vida, Clarice... e daqui a pouco uma delas fatalmente me fará deixá-la.
cL: E de que vida falas, Carlos? Há mariposas que vivem somente alguns minutos, e essa vida as basta. Não, fiquemos aqui pra sempre.
C: Tuas mãos são tão macias, Clarice.
cL: Faz silêncio, Carlos. Olha pra mim. Diz-me a primeira coisa que venha a tua mente.
C: Eu te amo, Clarice.
cL: E porque dizes isso?
C: Não faço a menor idéia.
cL: E é por isso que é verdade. Eu também o amo Carlos, e não sei porque. Nada que faz sentido nessa vida merece ser dito.
Carlos adormece. Clarice deixa Carlos dormindo na almofada, as luzes que antes estavam em Carlos e Clarice se apagam.
espero que você esteja ficando tão lindo quanto as coisas que anda escrevendo.
ResponderExcluirNossa! Lindo, lindo, lindo! Um texto leve, sucinto e magnífico! Muito bom, escritor. Tens muito talento.
ResponderExcluirAbraços do @poemasavulsos.